Um ativo que acaba de encarecer tornar-se mais atrativo? Como os mercados financeiros viram
o nosso mindset do avesso e como podemos estar conscientes destes fatores.

 

O que leva à criação de bolhas nos mercados financeiros?

 

Podemos afirmar que, nos mercados Financeiros, os investidores sentem-se atraídos por ativos que no passado recente obtiveram uma grande valorização (um paradoxo quando olhamos para os restantes mercados onde os indivíduos compram mais quando o bem se torna mais barato).

Muitas vezes, o que os investidores pensam é que, se hoje está mais caro do que ontem é porque o ativo é realmente bom, e se o ativo é bom, amanhã será ainda mais caro. Este fenómeno promove uma distorção do preço devido ao “efeito de rebanho”.

 

Um exemplo gritante deste fenómeno foi a febre pelas criptomoedas. Em 2017, a Bitcoin, estrela das criptomoedas, valorizou mais de 1.400%, um valor verdadeiramente astronómico (para termos noção um investimento de USD 1.000 equivaleria a um valor de USD 15.000 em apenas 12 meses), esta valorização explosiva atraiu inúmeros investidores, incluindo aqueles que nunca consideraram investir em ativos financeiros. Qual seria motivo para tal entusiasmo?

 

O motivo era simples - Hoje estava mais caro do que ontem.

 

Importa perceber que o que aliciou tantos investidores para esta “bolha” não foi qualquer alteração dos fundamentais deste ativo, até porque a Bitcoin não paga cupões ou dividendos e a sua utilidade como meio de pagamento sempre foi diminuto ou até inexistente. O que atraía os investidores era claro: a expectativa de grandes retornos num curto espaço de tempo.

O facto desta “moeda” virtual valorizar de forma sucessiva, incitou a que os investidores desejassem o ativo, o que por sua vez provocava a subida do preço, criando um efeito de bola de neve (a valorização atraía investidores e o interesse valoriza o ativo).

Hoje em dia, as ciprotomoedas e, também a Bitcoin, deixaram de estar na moda! Em 2018 e sem qualquer alteração relevante, este ativo desvaloriza mais de 50%, destruindo assim a maior bolha nos mercados financeiros que assistimos nos últimos anos.

 

O que fazer para evitar as bolhas?

Nos próximos parágrafos, mencionaremos três pilares que permitem evitar as bolhas financeiras.

Muitos dos ativos que foram alvos de especulação e que originaram bolhas financeiras não são produtivos e quem os compra tem a esperança de que, no futuro, alguém venha a pagar mais por eles (conforme é descrito pelo princípio de Minsky). Quem investe assim, não é inspirado por aquilo que o ativo produz, mas, sim, porque acredita que outros o desejarão ainda mais no futuro. Esta é, na sua essência, a definição de especulação. É desta forma que surgem as bolhas especulativas.

Nos últimos 40 anos, neurocientistas e psicólogos têm estudado o nosso processo de tomada de decisões, o que nos condiciona como seres humanos e porque fazemos, muitas vezes, as escolhas erradas ao longo da vida.

Psicólogos e neurocientistas descobriram duas características que são particularmente relevantes na tomada de decisões. A primeira, é que estamos programados para o curto prazo: o ser humano tende a considerar a possibilidade de ganhos no curto prazo extremamente atrativa. Estes ganhos estimulam os centros emocionais do cérebro e libertam dopamina. Isto torna-nos mais confiantes, estimulados e, de uma forma geral, satisfeitos connosco próprios. A segunda, é a nossa tendência para adotar comportamentos de rebanho: a dor da exclusão social (por exemplo, comprar quando todos estão a vender ou vice-versa) é sentida nas mesmas partes do cérebro que sentem a dor física real. Adotar estratégias de investimentos contrárias é, portanto, um pouco como sermos espancados.

Nos últimos 20 anos, tanto as ações tecnológicas como o mercado imobiliário mostraram os excessos extraordinários que podem ser criados pela combinação de uma tese de investimento sensata (no início) com uma enorme especulação. Nestas bolhas, os investidores, a princípio desconfiados, capitulam à prova entregue pelo mercado (subida constante do preço do ativo) e a bolha germina — durante algum tempo — o suficiente para manter a roda a girar. O público investidor festeja o lucro fácil. Mas as bolhas inevitavelmente estouram. E o velho provérbio é mais uma vez confirmado: “Aquilo que o sábio faz no princípio, o tolo faz no fim.”

 

A chave para investir com sucesso é “simples”: comprar bons ativos, que produzam rendimentos, quando estes estão baratos, depois é só manter esses mesmos ativos e não ser sensível aos humores de curto prazo dos mercados. Nunca esquecendo a regra de ouro chamada diversificação.

Infelizmente este conceito tão simples não é facilmente aplicável pelos investidores que todos os dias são bombardeados com múltiplas notícias que, em alguns dias, passam a mensagem de que tudo é bom e que os mercados só podem valorizar para logo, no dia seguinte, o sentimento ser exatamente o oposto e parecer que vamos ter o fim do mundo.

 

 

Conclusões

O investidor deverá ter a disciplina e a coragem de se manter fiel aos seus princípios, não sendo sensível a pêndulos emocionais constantes.

Como Benjamin Graham declarou: “Se acredita que o investimento é sólido, devemos manter esse princípio. Mantenha-se fiel e não se deixe arrastar pelas modas, pelas ilusões e pela perseguição constante do lucro rápido. Não é preciso ter uma inteligência de génio para ser um investidor de sucesso. O que é necessário é, em primeiro lugar, uma inteligência razoável; em segundo, bons princípios de atuação; e terceiro e mais importante, firmeza nas convicções.”

Nunca deixaremos de ser suscetíveis aos enviesamentos comportamentais. Reconhecendo as nossas limitações, estaremos mais bem preparados para que os processos lógicos assumam o controlo.

Só com processos sólidos de tomada de decisões será possível obter resultados consistentes a médio e a longo prazo e evitar as inevitáveis bolhas que vão sendo criadas nos mercados financeiros.