O primeiro (de três) debates para as Eleições Presidenciais de 3 de novembro nos EUA, que colocou em confronto direto Donald Trump e Joe Biden ficou marcado, não pela claridade que trouxe relativamente a temas importantes para o povo americano, mas sim pelo nível aguerrido e tom crispado que ambos os candidatos utilizaram para marcar a sua posição.

 

Por exemplo, Trump,  afirmou que fez mais em 47 meses como Presidente do que Biden fez em 47 anos como Senador! Colocou mesmo em causa as capacidades intelectuais do seu opositor, tendo afirmado que este, quando se licenciou, “ficou no último ou entre os últimos lugares” enquanto ele, Trump, foi “o melhor da sua turma”.

 

Por seu lado, Joe Biden classificou o atual Presidente em funções como o pior que o país alguma vez teve, declarou que não iria perder tempo a expor as suas mentiras publicamente e chegou mesmo a classifica-lo de “palhaço”, proferindo a frase: “É difícil conseguir dizer uma palavra com este palhaço”, como resposta às constantes interrupções de Trump.

 

 

Mas afinal, entre respostas ríspidas e "galhardetes", quais foram as ideias principais dos 9 grandes temas abordados:

 

Nomeação de um sucessor da falecida juíza do Supremo Tribunal dos EUA, Ruth Bader Ginsburg

   Trump defendeu a sua nomeação da juíza Amy Coney Barrett, a argumentar que foi eleito para um mandato de 4 anos e, dessa forma, está no seu direito de realizar esta nomeação. Acrescentou ainda que, se os democratas estivessem na sua posição fariam exatamente o mesmo.

Por outro lado, Biden acredita que esta decisão deveria ter sido adiada até ao fim das eleições já que se trata de uma posição chave no sistema democrático americano e a pessoa nomeada pela atual administração já escreveu no passado que pensava que o Obamacare era inconstitucional, estando claramente mais alinhada com o partido republicano.

Saúde EUA

   Trump declarou a sua intenção de lutar contra as “Big Farma” para baixar os preços dos medicamentos. Deu como exemplo a insulina que é tão barata de produzir que é como água. Voltou ainda a referir a sua intenção de acabar com a Obamacare pois, apesar de já ter corrigido muitas das coisas más, este é simplesmente demasiado oneroso, não sendo compatível com o seu objetivo de implementar um sistema que dispense os melhores cuidados de saúde com os custos mais baixos para o povo americano.

Biden referiu que, com a destruição do Obamacare, milhões de americanos irão ficar novamente sem seguro de saúde e atacou a gestão da pandemia por parte da administração de Trump, salientando que devido a este crise milhões de americanos perderam o seu emprego e por consequência, perderam também o seu seguro privado de saúde.

Covid-19

   Trump defendeu que a sua gestão da crise permitiu que “apenas” 200 mil americanos tenham perdido a vida e, se Biden fosse Presidente o número de mortes seria muito “2 milhões”.

Por seu lado, Biden atacou o Presidente sobre as suas contraditórias posições sobre o uso de máscara e sugestões de medidas para combater a doença (relembrou que Trump sugeriu injeções de lixivia como forma de tratamento do Covid-19, ao que este respondeu que estava a ser sarcástico). Abordou também a expectativa do tempo necessário até a existência de vacina disponível, já que Trump não se cansa de referir que e num espaço de algumas semanas ou poucos meses já existirá uma vacina, mas membros da sua equipa fizeram declarações que o contradizem. Biden relembrou também que Trump tinha afirmado em abril que “com o calor o vírus iria desaparecer”, numa tentativa de atacar a credibilidade do Presidente, e também que este minimizou o perigo do novo coronavírus nos primeiros meses da pandemia, o que impediu o país de se preparar adequadamente.

Economia

   Trump referiu que durante o seu mandato, pré pandemia, a economia americana estava numa situação extraordinária, com o desemprego a atingir mínimos históricos e o mercado acionista a atingir máximos sucessivos. Mas com o aparecimento da pandemia (da responsabilidade da China) a economia confrontou-se com um revés mas que ele geriu da melhor forma possível, permitindo uma recuperação extremamente rápida. Neste ponto, atacou o candidato democrata referindo que este quer voltar a fechar a economia para combater a doença.

Biden contra-atacou dizendo que Trump será o primeiro Presidente que acaba o mandato com menos empregos do que quando começou. Disse também que ele tem provas dadas quando se fala de reconstruir uma economia, já que enquanto Vice-Presidente de Obama (em janeiro de 2009), se deparou com as consequências da grande crise financeira de 2007/08 e conseguiu recuperar a mesma com sucesso.

Impostos e especificamente o não pagamento de impostos federais de rendimento por Trump

  Trump respondeu que nos anos de 2016 e 2017 pagou “milhões de dólares”, declarando que tudo não passam de notícias falsas. Disse também que, como cidadão privado, naturalmente tentou otimizar as leis fiscais e minimizar o pagamento de impostos e referiu que muitos dos benefícios a que recorreu resultaram das políticas implementadas durante a Presidência de Obama. Nesta parte do debate Trump recuperou o tema do filho do Joe Biden ter ligações suspeitas á Ucrânia e Rússia, tendo alegadamente recebido 3.5 milhões de dólares da mulher de um ex-autarca de Moscovo. O facto de o Presidente ter pedido ao seu homólogo ucraniano para investigar Hunter Biden foi o motivo para a ação de Impeachment em 2019.

Violência Racial

   Biden defendeu que “nunca” os EUA estiveram tão divididos internamente e o nível de ódio racial tão elevado lembrando as diversas manifestações e tumultos gerados contra a violência policial e o racismo, chamando racista ao atual Presidente.

Trump contra-atacou dizendo que Biden, em 1994 tinha chamado aos negros “super predadores” e insistiu repetidamente no lema “lei e ordem”, associando Biden à extrema-esquerda.

Lei e Ordem

   Trump não se cansou de referir que ele é o único candidato que consegue fazer cumprir a lei, agindo muito rapidamente contra situações de violência e tumultos, e para além disso, conta com o apoio de inúmeras associações de policias de vários estados, desafiando Biden a enumerar apenas uma que o apoie.

Biden referiu que quando ele estava no cargo de Vice-Presidente, os crimes violentos caíram 15% e aproveitou para desmentir o rumor de que alegadamente queria retirar fundos à polícia.

Alterações climáticas

   Trump afirmou que também é seu objetivo providenciar aos americanos ar puro e águas cristalinas, mas não está disposto a pôr em causa a economia a qualquer custo. Admitiu também que acredita nas alterações climáticas mas só “até certo ponto” e mantém a decisão de sair dos acordos de Paris já que estes não defendiam os interesses americanos. Quando foi confrontado com os grandes incêndios que têm lavrado na Califórnia, o Presidente referiu que a solução passa por uma melhor gestão florestal.

Biden prometeu que, sendo Presidente, os EUA voltarão aos acordos de Paris, e falou que os EUA têm que estar mais ativos neste combate às alterações climáticas, dando como exemplo a destruição da floresta da amazónia no Brasil que devia ser prevenida.

Integridade das eleições

   Tópico muito importante para os mercados! Trump voltou a defender que existe um enorme risco de fraude nos votos enviados por correio, argumentando que “ainda há poucos dias” foram encontrados boletins de voto (pró Trump) no lixo, pedindo aos seus apoiantes para estarem atentos e vigilantes, de forma a impedir fraudes.

Já Biden utilizou o seu tempo para apelar a todos os americanos para votarem da forma que lhes for mais conveniente. Terminou a dizer que aceitará o resultado das eleições e irá apelar à calma dos seus apoiantes durante o período necessário para contabilizar todos os votos que foram enviados por correio, o que pode demorar dias ou mesmo semanas.

 

Um estudo de opinião da CNN revelou, mal terminou o debate, que 60% dos telespectadores atribuíam a vitória a Biden e apenas 28% a Trump. Mas esses valores estão próximos dos do primeiro debate de 2016 (62-28% a favor de Hillary Clinton) e isso não impediu Donald Trump de ser eleito…

E provavelmente nada do que se passou no debate fará qualquer eleitor alterar o seu sentido de voto. A principal mudança promovida pelo debate será provavelmente a alteração das regras para debates futuros, pois concluiu-se que o atual modelo não funciona em prol do esclarecimento dos eleitores.

 

Num contexto de Covid-19, em que um grande volume de eleitores recorrerá ao voto não presencial (o que dificultará a contagem dos votos), com Trump a não se quer comprometer em aceitar pacificamente os resultados caso perca (levantando suspeitas de fraude), com os ânimos tão exaltados e os americanos tão polarizados, existe um enorme risco de assistirmos a uma enorme comoção social e política no pós eleições de 3 de novembro!

 

Finalmente, a não perder o debate entre os candidatos à vice presidência já no dia 7 de outubro!!