No domingo de Páscoa confirmou-se que a OPEP e os seus aliados acordaram num corte de produção de cerca 9,7 mbd* quer em maio quer em junho, o que representa cerca de 10% da atual produção global.

Os preços não subiram, em reação ao anúncio, tal como se poderia pensar, pois muitos analistas consideram que tais cortes são insuficientes tendo em conta a atual situação do consumo (que se acredita estará 30 mbd abaixo do normal) bem como o facto de muitos dos países produtores estarem já nos últimos meses voluntariamente a produzir muito abaixo da sua quota. Ou seja o corte efetivo de produção será muito inferior ao valor anunciado ficando pelos 7.2 mbd.

 

Fonte: Goldman Sachs

 

 

Há quem esteja menos pessimista, uma vez que há sinais que países que ficaram fora deste acordo como os EUA, a Noruega, o Canadá e o Brasil, sejam forçados a cortar a sua produção, pois a estes preços não é rentável estar a produzir no máximo da capacidade. A isto acrescenta-se a expetativa de que a China, aproveitando os baixos preços do petróleo possa comprar muito mais que o seu consumo, enchendo as reservas estatais. Tudo junto, poderá significar um corte de 20 mbd na produção.

No entanto, verificou-se esta queda livre dos preços do petróleo que só foi possível em consequência de vários fatores, sendo o principal a travagem económica global (com uma violência e sincronia sem precedentes) que levou à queda vertical do consumo de petróleo.

Este é um fenómeno específico do Petróleo WTI e no contrato de maio e que, by design, obriga a settlement físico na expiração. O settlement físico tem o problema de exigir capacidade de armazenamento... que neste momento nao existe devido ao excesso de petróleo disponível e à redução dos petroleiros que podem fazer esse armazenamento devido a alterações na legislação nos EUA (que obrigam a uma certificação destes sites de armazenagem). Noutros contratos de petróleo (Brent por exemplo) onde há settlement financeiro a queda dos preços foi muito mais contida e não houve preços negativos. Ou seja estes preços negativos só ocorreram especificamente neste mercado e não no petróleo em geral transacionado em múltiplos pontos do globo

​Mas isto tem consequências... ​Correram muitos rumores no mercado e foi isso que deixou Wall Street nervosa na sessão de terça feira o que teve impactos económicos. Em teoria pressões deflacionistas e transferência de riqueza dos países produtores de petróleo para países consumidores de petróleo.

Porém, esta é uma situação de um contrato e de uma geografia especificamente e não de todo o mercado do petróleo e mesmo que assim fosse, um pais importador como Portugal em teoria seria beneficiado e todos nós também quando enchemos o depósito.

Mas estamos em casa e a consumir muito pouco petróleo e por isso beneficiamos muito pouco do gasóleo estar mais barato...

 

*mbd. - milhões de barris / dia

 

 

Atualizado a 23 de abril 2020