De modo a entendermos claramente o propósito do ouro, comecemos por olhar para as origens do mesmo. As primeiras interações com este metal precioso iniciaram-se em 3000 A.C. com os antigos egípcios na criação de jóias. Só em 560 A.C. é que o ouro foi introduzido pela primeira vez como moeda. Na altura, os comerciantes queriam algo de fácil aceitação e que simplificasse as transações. Contudo, o ouro perdeu relevância como moeda de troca em 1971 quando os E.U.A. abandonaram o sistema de Brent Woods abolindo unilateralmente a convertibilidade do dólar em ouro.

 

Tendo em conta que o ouro já não pode ser convertido em nenhuma divisa, por que razão ainda é importante?

Por que motivo vemos o ouro no balanço de reservas federais, países e de outras instituições como o FMI?

 

A importância do ouro na economia moderna centra-se no seu sucesso extraordinário de preservação de riqueza ao longo de séculos de história. Aliás, numa economia com um aumento da taxa de inflação, o ouro tende a servir de proteção, ou seja, evita perda do poder de compra. O exemplo mais predominante encontra-se nos anos de 1970s nos E.U.A. Porém é de relembrar que esta relação não é linear visto que existem inúmeros fatores a determinar continuamente a cotação do metal precioso.

 

Ouro vs Inflação (CPI) - EUA | Fonte macro-investing-strategy.com

 

 

Uma outra característica presente é a segurança. Independentemente do tipo de tensões políticas ou económicas que possam ocorrer nas diferentes geografias, os investidores olham para o ouro como um ativo de refúgio. Na verdade, uma análise mais profunda denota isso mesmo: já houve impérios a colapsar, crise financeiras e até mesmo duas guerras mundiais e o ouro conseguiu não só ultrapassar todos esses momentos como também perservar a riqueza dos investidores. Por conseguinte, sempre que hajam eventos de magnitude tal que sugiram algum tipo de incerteza económica global, os investidores tenderão a adquiri-lo.

Deve o ouro ser incluído numa carteira de investimentos?

 

Recentes fenómenos como as criptomoedas têm colocado em questão a força do ouro, mas um “ativo” sem valor intrínseco e com uma existência temporal reduzidíssima, não nos parece que, para já, seja uma ameaça real ao ouro. Desta forma, é cada vez mais claro a inclusão do ouro no portfólio de investimentos de qualquer investidor seja por preocupações com a inflação ou apenas com o intuito de proteger a sua riqueza.

Para além disso, oferece um acréscimo de diversificação à carteira visto que tem correlação limitada com outras classes de ativos como as ações, obrigações ou até mesmo o imobiliário.

Atualmente, um investidor não necessita de deter ouro em termos físicos na medida em que existem instrumentos financeiros que permitem ganhar exposição ao metal precioso sem ter a preocupação de, por exemplo, o guardar num sítio seguro, como é o caso do veículo de investimento Sprott Physical Gold and Silver trust (CEF).

À data deste artigo, 10 de setembro de 2018, o ouro cotava perto dos 1 200$, o que está longe dos quase 1 900$ registados no início da crise soberana na União Europeia, momento em que o sentimento por parte dos investidores face aos futuros desenvolvimentos da U.E. era bastante negativo. Assim, o momento menos bom que atravessa a cotação do ouro acaba por ser justificado pelo ambiente de relativa calma nos mercados e complacência dos investidores, pelo que, a atração pelo ouro é menor.

 

Cotação do Ouro – 20 anos | Fonte: Bloomberg.com

 

Em última análise, como afirmou Gerald M. Loeb:

“O desejo por ouro é o mais universal e profundamente enraizado instinto comercial da raça humana”