No princípio da semana, depois de meses de impasse, foi finalmente alcançado um acordo no Congresso dos EUA entre Republicanos e Democratas para a aprovação de um novo pacote de medidas de estímulo fiscal com o objetivo mitigar os danos causados pela pandemia.
O somatório destas medidas está estimado em 900 mil milhões de dólares, mas o valor exato não é conhecido pois dependerá da evolução, por exemplo, dos números do desemprego nos próximos meses pois uma das medidas mais relevantes é a atribuição de uma prestação semanal extraordinária a cada indivíduo em situação de desemprego.
É importante recordar que, depois dos estímulos de proporção histórica aprovados no final de março, a profunda divisão e clivagem entre os congressistas republicanos e democratas (agudizada pela infeliz coincidência de 2020 ser um ano de eleições presidenciais) não permitiu a aprovação de medidas de apoio adicionais.
Os principais destaques do pacote agora anunciado vão para o pagamento direto (único) de 600 dólares a todos os americanos com rendimentos anuais inferiores a 75 mil dólares, e para a já referida extensão e majoração em 300 dólares semanais do subsídio de desemprego até 14 de março de 2021. A nova proposta também inclui 325 mil milhões de dólares em ajuda às empresas, designadamente para a extensão do “Paycheck Protection Program” que permite às pequenas e médias empresas (até 500 trabalhadores) contraírem novos empréstimos (garantidos pelo Estado) para cobrir até 8 semanas de salários e outras despesas. Este financiamento será convertido num subsídio a fundo perdido, caso os empresários cumpram com um conjunto de condições como a manutenção dos postos de trabalho alvo do apoio. Para além destas medidas, os partidos decidiram alocar cerca de 45 mil milhões de dólares para apoiar os transportes públicos, 82 mil milhões de dólares para escolas e 20 mil milhões de dólares para distribuição de vacinas covid-19.
Para as medidas constantes neste pacote se materializem, é necessário agora a assinatura de Donald Trump. No entanto, através de um vídeo publicado no Twitter, o ainda Presidente Americano já veio anunciar que não irá retificar o documento, classificando-o como uma “desgraça”, já que as 5.600 páginas de legislação associada ao diploma estão “repletas de gastos inúteis” e o montante atribuído a cada americano é insuficiente e “excessivamente conservador”. Trump sugere aos congressistas subir o valor de 600 para os 2000 dólares para cada americano. Assim, o Presidente cessante pede ao Congresso que altera a proposta referindo que, caso isso não aconteça, o novo pacote de estímulos terá de esperar pela nova administração para obter aprovação presidencial, acrescentando que se essa administração for liderada por ele (uma vez que mantem a narrativa de fraude nas eleições de novembro e que será reempossado em janeiro) a legislação, tal como está, não será aprovada.
Entretanto, em resposta às declarações de Trump a líder democrata do congresso Nancy Pelosi já veio a público afirmar que os democratas estão de acordo e aceitarão o aumento do valor atribuído a cada americano para 2.000 USD! Vítimas destas jogadas políticas os americanos continuam sem respostas para os seus problemas pela liderança política de Washington e a sofrer com os efeitos económicos nefastos da propagação da pandemia num país que regista recordes tanto em número de mortos (mais de 316 mil), como em número de casos de infeção confirmados (mais de 17.6 milhões).