Na passada semana, o Banco Central da China (PBoC) apresentou um amplo “pacote” de medidas de política monetária (o maior desde o final da pandemia Covid-19), aumentando assim os seus esforços para reverter os inegáveis sinais de abrandamento da atividade na segunda maior economia mundial.
Entre a diversas medidas apresentadas, destacam-se: a redução do rácio de reservas obrigatórias dos bancos em 50 pontos base (libertando liquidez para a concessão de novos empréstimos e, assim, fomentar o investimento e a procura interna) e a redução das diversas taxas de referência (com destaque para a taxa de cedência de liquidez a 7 dias, que foi reduzida em 0.2 pontos percentuais para 1.5%). Adicionalmente e com o intuito de impulsionar o setor imobiliário, que atravessa uma grave crise nos últimos trimestres, o PBoC anunciou um corte de 50 pontos base nas taxas de juro das hipotecas já existentes e uma redução do mínimo de entrada para compra de habitação para 15%.
Em coordenação com estas medidas, apenas dois dias depois, a 26 de setembro, os dirigentes máximos do Partido Comunista Chinês, durante um encontro do Politburo, reafirmaram o seu forte compromisso político com a adoção de medidas de estímulo fiscal mais vigorosas, capazes de relançar a economia, a saber:
- A injeção de cerca de 1 bilião de renminbis (RMB) no capital dos principais bancos estatais chineses;
- A emissão adicional de 2 biliões de RMB de dívida soberana, que será utilizada em projetos destinados a estimular o consumo interno e o investimento público e privado;
- Promessas de apoio ao Banco Central na eventual tomada de decisão de novos cortes das taxas de juro de referência e / ou do rácio de reservas obrigatórias dos bancos nos próximos meses, caso tal seja necessário.
Adicionalmente, a flexibilização monetária anunciada pelo PBoC, destinada a reavivar o sector imobiliário, foi também secundada de compromissos adicionais e promessas pró-crescimento por parte do Politburo, que colocou um forte destaque na necessidade de estabilizar este setor de atividade, adotando uma intervenção mais vigorosa, a curto prazo. Por fim e com impacto direto nas bolsas, de forma a apoiar o mercado acionista doméstico, o Politburo anunciou, entre outras medidas, a sua intenção em reforçar o “fundo de estabilização” do governo chinês criado em outubro de 2023, dotando-o com mais cerca de 800 biliões de RMB, que serão utilizados na compra de ações listadas na bolsa de Xangai.
Este vasto e ambicioso conjunto de medidas, teve um impacto imediato nos mercados acionistas chineses e particularmente nos títulos cotados no mercado doméstico que foram os que mais beneficiaram da mudança dramática no sentimento dos investidores, com o índice de Xangai (Shanghai Shenzhen CSI 300 Index) a registar a sua maior subida semanal desde 2008 (+16.5%) na última semana de setembro e valorizando em apenas 5 sessões (entre terça-feira, dia 24, e segunda-feira dia 30) um incrível ganho de mais de 25%! Este disparo das cotações foi acompanhado de um grande aumento dos volumes transacionados, que quase dobraram face à média dos últimos meses.
Assim, e embora muitos pormenores do plano de estímulo traçado pelas autoridades de Pequim ainda permaneçam pouco claros, o receio dos investidores em perderem uma recuperação sustentada nas ações chinesas, foi palpável nas sessões ao longo de toda a semana, este efeito FOMO – fear of missing out –a ganhar particular importância, se considerarmos que o nível de "underweight" a ativos de risco chineses se encontrava até há poucos dias em níveis muito extremados.
De facto, o esforço concertado das autoridades monetárias e políticas da China parece ter, pelo menos por enquanto, conseguido alterar a narrativa negativa em torno da economia, uma grande mudança, considerando que nas últimas semanas bancos com Goldman Sachs e UBS reduziram suas previsões de crescimento, após uma série de dados negativos que alarmaram o mercado sobre a possibilidade de queda nos preços. Agora, a grande maioria dos analistas consultados pela Bloomberg espera que o governo chinês consiga atingir a sua meta de crescimento do PIB este ano, de cerca de 5%, um cenário pouco provável há algumas semanas.
A questão crítica agora é saber se este rally é finalmente o começo de uma recuperação sustentada após os últimos anos de agonia ou simplesmente um disparo temporário impulsionado pela liquidez e pela euforia de muitos investidores. Na nossa opinião há razões para otimismo e há vários fatores estruturais que sugerem que o rally é sustentável, pois também está alicerçado em fatores estruturais mais profundos. No entanto, a trajetória de longo prazo das ações chinesas é desafiante e dependerá da capacidade do governo de Pequim em enfrentar vários desafios económicos, políticos, sociais e até demográficos com que a China se deparará nos próximos anos.