Uber, a maior empresa de táxis, não detém um único veículo. Facebook, a maior distribuidora de informação, não cria conteúdo. Alibaba, a retalhista mais valiosa do mundo, não detém inventário. Airbnb, a maior fornecedora de alojamentos, não detém ativos imobiliários. Como reiterou Tom Goodwin: “Algo interessante está a acontecer”.
A proliferação massiva das plataformas online têm permitido o crescimento exponencial de um modelo económico que, em certa medida, nos faz lembrar o início das transações comerciais, onde não existiam moedas e se trocavam produtos por outros produtos. A economia partilhada é um paradigma que possibilita não só a troca direta de bens, serviços e até mão de obra, mas também rentabilizar ativos que são pouco utilizados e, desta forma, aproveitar lacunas de mercado. Há milhares de anos que as diferentes comunidades espalhadas pelo mundo partilham os seus bens e serviços, porém, com o intensificar da rede online, tornou-se mais fácil o encontro entre quem tem algo para oferecer e aqueles que necessitam desse bem ou serviço. A economia partilhada é cada vez mais algo real, relevante e uma oportunidade ao invés de uma moda, distração temporária ou uma ameaça.
Por conseguinte, o desenvolver deste padrão de consumo permite a criação de novas fontes de receitas e lucros de várias formas como, por exemplo, através da expansão do mercado. Isto é, uma economia partilhada permite atrair novos consumidores que de outra forma não teriam acesso a determinados produtos. A ShareGrid, uma plataforma americana de aluguer de câmeras, está a permitir o acesso a equipamento de alta qualidade a fotógrafos amadores. No mesmo sentido, a Boatbound, empresa americana de aluguer de barcos, oferece aos seus clientes a oportunidade de passarem um dia num barco sem se preocuparem com os seus custos de manutenção.
Por esta altura estará o leitor a pensar: “este género de negócios sempre existiram...”. De facto, os exemplos aqui mencionados não são novidades, mas as plataformas online possibilitaram o seu melhoramento de forma substancial. Um cliente pode reservar por telemóvel, o que reduz as dificuldades envolvidas no aluguer. Aliás, como mostra o gráfico 1, a tendência do uso cada vez mais intensivo dos smartphones alavancará ainda mais o potencial já presente. Por outro lado, a quantidade disponibilizada pelo locador aumenta e não depende do tráfego em pessoa (ida dos clientes ao seu espaço físico). E ainda possibilita uma monitorização constante da qualidade dos serviços prestados através de classificações (ratings) e críticas (reviews) de utilizadores que já usufruiram do serviço.
Tal como o restante comércio online, a economia de partilha é construída sobre uma base de custos de transação incrivelmente baixos. No mundo físico, o aluguer é demorado e ineficiente. Para além disso, o locatário geralmente tem muito menos informação do que o locador, mas as plataformas digitais acabam por tornar o “jogo” mais equilibrado.Esta atração pela partilha surge com as dificuldades enfrentadas, essencialmente, na geração dos millennials (nascida entre 1980 e 1994) que, apesar de ser a melhor formada, é a menos remunerada. Como diz o ditado popular,“a necessidade aguça o engenho” e, como tal, a ideia de se ficar “preso” por ter de pagar empréstimos para a casa ou carro está cada vez menos presente nesta geração. Apesar de se mencionar repetidamente que favorece o ambiente e a sua sustentabilidade, na realidade, o verdadeiro motivo do seu uso está na perceção de que estes serviços acrescentam valor à economia através da maior variedade, acesso a melhores produtos e a possibilidade de desfrutarem de experiências únicas.
Do ponto de vista de quem já está presente no mercado, ou seja, das empresas cujo negócio é mais vulnerável a estas novas disrupções ainda têm a possibilidade de se adaptarem.
Mas como transformar uma ameaça numa oportunidade?
Em primeiro lugar, abraçar o modelo de negócio através da criação de concorrência própria nesse segmento. A Accorhotels, empresa multinacional francesa de hotelaria, agências de viagens e spas, adquiriu a Onefinestay e a Squarebreak que permitirão incluir no seu portfólio cerca de 8 500 propriedades privadas. Este novo universo proporcionará uma concorrência direta com a Airbnb. Em segundo lugar, podem ser compradores em vez de serem apenas vendedores. As empresas podem comprar serviços de partilha para melhorar a eficiência e flexibilidade dos seus serviços.
O rápido crescimento da economia partilhada não está a acontecer do nada. Num sentido mais abrangente das restantes atividades económicas, alugueres não tradicionais também ganham força. Os consumidores estão cada vez mais a aluguer música via serviços de streaming como o Spotify e a Apple Music. As empresas de música já obtêm mais receitas por estes serviços do que por qualquer outro canal de vendas. Adicionalmente, a “Nuvem” (Cloud) permite às empresas e consumidores acederem a software, memórias e outros recursos. Ou seja, pagam apenas pelo uso e evitam os custos de ser proprietário. Tal como na partilha, custos de transação mais baixos facilitam este “shift” (alteração) para o serviço e modelo de subscrições na música.
Será que o novo paradigma é apenas uma fase intermédia entre os serviços tradicionais e um futuro de tudo como um serviço?
Este sistema é capaz de substituir não apenas os alugueres tradicionais, mas também a propriedade de uma ampla gama de bens. Por exemplo, os proprietários de barcos podem decidir que é mais fácil e menos oneroso alugar através da Boatbound (plataforma mencionada anteriormente) dez vezes por ano do que comprar e manter uma embarcação de lazer que fica a maioria dos dias do ano na doca.
Em suma, a economia partilhada ainda é relativamente jovem e pouco desenvolvida, sendo que as dinâmicas do consumidor permanecem a madurecer. Embora o conceito de economia partilhada possa parecer apenas um termo que está na moda, para alguns, não há dúvida de que a procura por serviços compartilhados veio para ficar e as empresas têm de estar atentas de modo a dar resposta a esta procura nos próximos anos.