O ano de 2020 arrancou animado e positivo para a generalidade dos mercados financeiros, com a generalidade das classes de ativos a prosseguirem a tendência ascendente que caracterizou a maior parte do ano de 2019.

 

Contudo, esta marcha ascendente e aparentemente imperturbável das bolsas duraria pouco tempo e conheceria um final abrupto na última semana de fevereiro. Foi nesse momento que, as notícias da propagação do novo coronavírus (Covid-19) fora da China (e especificamente as primeiras notícias do surto no norte de Itália) atingiram como um meteoro os mercados. Assim, o que até aí era encarado como um tema singular e isolado, de uma província longínqua e pouco conhecida na China, passou a ser encarado como uma ameaça global (uma ameaça de saúde pública mas também uma ameaça económica e financeira). A rápida propagação do vírus nos dias / semanas seguintes por todos os continentes colocou os travões na economia global e esmagou o otimismo de consumidores e investidores, fazendo as bolsas mundiais precipitar-se num estado de pânico inaudito o que conduziria a uma sequência de sessões negativas ímpares nas bolsas mundiais!

 

Os fenómenos de correções são normais no funcionamento dos mercados financeiros e, apesar de serem dolorosos para muitos, permitem atenuar os efeitos da euforia e estabilizar os preços dos ativos, mantendo os mercados saudáveis. Contudo, as circunstâncias atuais não são de todo “normais” com um aumento exponencial da volatilidade das sessões de bolsa (e sua manutenção durante um número recorde de sessões a níveis extremos) e pela violência e sucessão de quedas. Nunca em tão pouco tempo os principais índices americanos tinham passado de um máximo histórico absoluto para uma queda superior a 10% a partir desse máximo (apenas 6 sessões) e o índice norte-americano S&P 500 apresentou a queda mais rápida de sempre da sua história, tendo perdido mais de 30% em apenas 22 sessões (ou seja, cerca de um mês)!

 

Perante os naturais receios gerados pela pandemia para a sua saúde e para a saúde dos seus familiares mais próximos e com movimentos de correção desta ordem de grandeza nas bolsas, a que acresce na maioria das vezes um contexto de incerteza / risco adicional na sua atividade profissional e nos seus negócios muitos dos nossos clientes e potenciais clientes têm-nos contactado e colocado questões sobre qual a atitude a tomar.

 

Com tanta incerteza e tanta coisa simultaneamente em causa nas nossas vidas, será mais apropriado liquidar os investimentos assumindo perdas / abdicando de ganhos, aguardando calmamente o fim da tempestade?

 

É precisamente nestes momentos que o papel das emoções humanas mais se faz notar na dinâmica dos mercados. O ser humano é assim, nós temos a capacidade / necessidade de interpretar tudo o que nos rodeia e a informação com que somos confrontados e integrar esse conhecimento nas nossas tomadas de decisão. O estudo da influência da psicologia no comportamento dos investidores e analistas financeiros e subsequente efeito nos mercados é conhecido por behavioral finance. E o que é que todos os estudos neste ramo de conhecimento concluem? Que os modelos de análise tradicional não funcionam em momentos de pânico ou euforia por que se baseiam na racionalidade nos investidores, no seu conhecimento total da informação e dos factos (que não há incógnitas), na sua capacidade de auto-controle e na sua capacidade de superar os seus próprios erros cognitivos e de processamento da informação chegando sempre à decisão “perfeita / lógica”. Ora, isto não poderia estar mais longe da verdade e, tal como já aconteceu inúmeras vezes no passado, também a “montanha russa” de sentimentos das últimas semanas levou muitos dos investidores a tomar a decisão de venda precisamente no pior momento.

 

Gráfico 1: O ciclo de emoções no mercado financeiro

 

Este ciclo emocional (gráfico 1) bem conhecido de todos é fácil de ser identificado a posteriori em todos os episódios extremos nos mercados. No entanto, em tempo real, é muito difícil para qualquer investidor / analista financeiro manter um comportamento puramente racional e manter-se abstraído das oscilações do mercado e do valor da carteira de investimentos, particularmente quando num contexto de perdas sucessivas e violentas! É inevitável que o cérebro humano seja inundado pelas sensações de receio… medo… pânico e que a desconfiança, a incerteza e a dúvida assumam um crescente papel nas tomadas de decisão. Vulgarizam-se expressões como: “esta crise é diferente”, “nada voltará a ser como antes”, “desta vez o mercado nunca mais recuperará ou demorará muito mais tempo a recuperar”!

 

Por isso mesmo, acreditamos que este o momento para fazer uma pequena pausa para reflexão. Por momentos, vamos tentar recordar de crises anteriores nas últimas duas décadas (a implosão da bolha das dot.com e os ataques terrorista de 11 de setembro de 2001, a grande crise financeira de 2007/2008, a crise das dívidas soberanas / os anos da Troika) e pensar como foram vividos os períodos de correção dos mercados e a angústia que muitas vezes sentimos nesses períodos das nossas vidas. Há uma grande probabilidade de ter experienciado exatamente algumas das emoções que está a viver agora acrescida de pensamentos muito semelhantes a algo do tipo “mas agora é diferente! / esta crise é diferente!”.

Certo, não há dois momentos nas nossas vidas exatamente iguais! Mas uma coisa é certa, usando uma frase de um dos investidores mais astutos e bem sucedidos, Warren Buffett:  “The stock market is a device to transfer money from the impatient to the patient.” Ou seja, volvidas todas as crises, os investidores que não cederam à pressão e que continuaram investidos ou até mesmo reforçaram as suas posições durante a queda dos preços viram a sua estratégia recompensada. Ou, posto de outra forma e como um dia disse Benjamin Graham, “the intelligent investor is a realist who sells to optimists and buys from pessimists”. É importante relembrar que nos mercados todas as decisões têm consequências e riscos: manter os investimentos durante uma queda das bolsas implica continuar exposto ao risco dos preços continuarem a baixar e agravar as perdas mas uma decisão de venda e o assumir das perdas implica também o investidor expor-se ao risco (de oportunidade) de perder um movimento de recuperação e cristalizar as perdas, o que em momentos de grande incerteza / volatilidade tendem a ser explosivos (basta ver o movimento das bolsas dos últimos dias, onde, por exemplo, tivemos a melhor sessão diária do Dow Jones desde 1933 e vimos este índice norte-americano liderar a recuperação e acumular uma subida de mais de 20% desde o seu ponto mínimo desta crise)!

 

Claro que, para poder beneficiar destas oportunidades é necessário ter um pensamento de longo prazo. A história tem provado que se o investidor tiver um horizonte temporal suficientemente largo, mesmo que compre no pior momento possível, tem uma forte possibilidade de acabar por ver o seu investimento com rentabilidades positivas. Basta fazer o mais difícil que é resistir ao impulso do vender nos momentos em que o sentimento de dúvida e incerteza atinge o seu pico. Ou como diria outro investidor lendário em Wall Street “Invest for the long haul. Don’t get too greedy and don’t get too scared” - Shelby M.C. Davis.

 

A Golden partilha desta filosofia e procura a obtenção de retornos no longo prazo. Adivinhar o dia / a sessão de bolsa do dia seguinte é tarefa para tarólogos e astrólogos. O nosso papel é, através de uma gestão dinâmica mas também criteriosa e refletida, procurar manter um equilíbrio (por vezes difícil) entre a preservação do capital que os nossos clientes nos confiam e a potenciação de ganhos que façam crescer esse capital. E acreditem… esta é apenas mais uma crise, ao nível dos mercados financeiros, “igual” a muitas outras que já vivemos e iremos viver!