Com o início de um novo ano, é altura de fazer o balanço de 2020, um ano certamente singular nas nossas vidas, e que iremos recordar por muitos anos como o “ano do Covid”. A propagação da pandemia trouxe importantes efeitos a múltiplos níveis: quase 100 milhões de infetados, mais de 1.8 milhões de mortes, recessão económica e um galopante aumento do desemprego em todas as geografias devido às restrições de atividade e circulação que foram impostas, bem como enormes mudanças no âmbito das relações pessoais que se refletiram no distanciamento e isolamento social de muitos milhões de pessoas.

 

Mas, apesar de todas estas condicionantes, o índice global de ações, o MSCI World, fechou o ano com uma valorização superior a 10%!

 

A singularidade do ano de 2020 tem também reflexo no comportamento incrivelmente volátil dos mercados financeiros, com movimentos sem paralelo em muitas décadas. No espaço de apenas 12 meses, os mercados acionistas experienciaram um crash (entre finais de fevereiro e a 3ª semana de março), cuja magnitude apenas é comparável ao de 1987, com, por exemplo, o S&P 500 a registar uma queda na ordem dos 30% nessas (poucas) semanas, e a recuperação mais rápida alguma vez registada, o que permitiu a esse mesmo índice não só recuperar todas as perdas como fechar o ano positivo e com ganhos de mais de 18% face ao fecho de 2019!

 

Esta evolução das bolsas reflete a enorme oscilação do sentimento dos investidores, que, em março, atingiu nível extremo de depressão e viveram-se momentos de verdadeiro pânico, com os investidores a não saberem como se posicionar perante uma doença pouco conhecida, já que era impossível antecipar quais seriam as consequências para a economia das medidas de confinamento e quanto tempo seria necessário até ao normalizar da situação de saúde pública. Mas os Bancos Centrais foram rápidos a agir e anunciaram enormes programas de estímulos para tentar estabilizar e suportar o sistema financeiro nestes momentos muito difíceis. Os governos não ficaram para trás, nomeadamente os EUA, ao anunciar e implementar grandes pacotes de ajudas para apoiar todas as pessoas afetadas pela pandemia e na Europa (apesar das habituais dificuldades na tomada de decisão) com a implementação de medidas de ajuda social ao abrigo do orçamento comunitário.

 

Os investidores, à medida que mais informação ia aparecendo sobre a doença, juntamente com os anúncios dos enormes estímulos monetários e orçamentais, foram mudando a sua visão para o futuro, atingindo um otimismo elevado no fim do ano, na sequência do aparecimento de múltiplas vacinas, aparentemente eficazes, no combate ao Covid-19.

 

Para além do colossal aumento da volatilidade que foi uma das peças centrais que separa o ano 2020 dos restantes, também a evolução dos preços das empresas dos diversos setores de atividade nunca foi tão desigual como a que assistimos no ano passado. O setor da tecnologia foi, pelo 2º ano consecutivo, o líder nos ganhos, com o índice Nasdaq a atingir valorizações na casa dos 40% no fecho do ano, mas com muitos títulos individuais a registar valorizações estratosféricas. Por outro lado, as empresas exploradoras / refinadoras de hidrocarbonetos (setor da energia) foram, pelo 3º ano consecutivo, o pior setor do mercado, registando perdas de mais de 37% no ano.

 

Desta forma, temos mais uma singularidade de 2020: o diferencial de performance entre o melhor setor do mercado (tecnologia) e do pior (energia) foi o maior de sempre.

 

Ou seja, um investidor que tenha investido 100 USD nas empresas do setor da energia no início de 2020 chegou ao fim do ano com o seu investimento a encolher para cerca de 62.5 USD enquanto um investidor que tenha investido esses mesmo 100 USD nas empresas do setor da tecnologia viu o seu investimento valorizar para 141.2 USD! Em teoria, para recuperar da underperformance relativa em 2020, o setor da energia teria agora de valorizar quase 126%!!

 

Estes resultados mostram claramente que os ganhos nos mercados em 2020 foram muito assimétricos sectorialmente, realçando a importância de fazer boas escolhas a esse nível no momento de constituição de uma carteira de investimentos.

 

O ano de 2020 (e provavelmente 2021) vem assim reforçar a importância de uma gestão mais ativa e profissional das carteiras de investimento, que permita identificar e orientar o capital para os setores / classes de ativos com um maior potencial de valorização e evitar armadilhas como ativos excessivamente valorizados.

 

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