Os efeitos da comunicação do Sr. Trump no comportamento dos mercados acionistas

Desde a sua eleição em novembro de 2016, e mantendo a sua postura muito ativista, o mandato do Presidente Trump tem sido marcado por uma utilização quase constante e muito incisiva do Twitter, sendo mesmo um dos seus principais, se não mesmo o principal, meio de comunicação.  O facto de se tratar de uma rede social assente em publicações (neste caso específico denominados de tweets) com um limite reduzido de caracteres implica que as mensagens assumem um caráter telegráfico, o que pode levar a que muitas das vezes a tónica das mesmas seja mais vincada do que se fosse transmitida via outro meio de comunicação menos restritivo.

 

O Sr. Trump, com o seu estilo impulsivo, parece ter encontrado no Twitter o seu habitat natural, acabando por, paradoxalmente, tornar as suas publicações tão ou mais relevantes do que as declarações que vai proferindo nas intervenções ditas “tradicionais”, mesmo as que se revestem de caráter oficial e vinculativo.

 

Os líderes políticos e agentes de decisão a nível mundial são alvo de um escrutínio muito exaustivo, quer em termos de ações como de declarações, sendo as mesmas analisadas de forma permanente na tentativa de tentar obter algum insight adicional que permita reduzir a incerteza de eventos futuros. Esse tipo de comportamento pode levar a conclusões que posteriormente não se materializem, mas esta é uma análise que não é o objeto deste artigo. O que importa reter é que, num mundo em que a informação está acessível de forma relativamente democratizada em tempo real, este tipo de preocupações com a forma como se comunica reveste-se de especial importância, e nesse sentido o Presidente Trump investe claramente na quantidade e frequência em detrimento da qualidade e ponderação.

 

Além da sua utilização intensiva do Twitter, o Presidente dos EUA tem focado, não raras vezes, o comportamento dos mercados acionistas, responsabilizando as políticas da sua administração pelo mesmo. Claro que esta relação apenas é estabelecida quando a performance é positiva, havendo sempre outros “culpados” quando os resultados não são os desejados. A volatilidade e quedas expressivas que se têm feito sentir em 2018 têm sido atribuídas de forma bastante regular à ação da Reserva Federal, nomeadamente a subida de taxas de juro que tem sido encetada. O Sr. Trump chegou mesmo a afirmar que se sentia arrependido de ter nomeado Jay Powell para Presidente da Fed, não perdendo a oportunidade de se vangloriar pela queda dos preços do petróleo!

 

 

Esta suposta ligação, veiculada pelo Sr. Trump, tem o efeito peculiar de se “auto-alimentar”, isto é, as publicações do seu Twitter tornaram-se um evento por si só, assumindo um peso no comportamento dos mercados acionistas que muitas das vezes eclipsa a tendência vigente ou o restante fluxo noticioso, o que, tendo em conta que muitas das vezes o teor dessas publicações é quase de opinião pessoal do Sr. Trump (que é diferente do papel de Presidente dos EUA), acaba por levar a reações exageradas.

 

 

Um exemplo paradigmático foi a recente reunião do G20, nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro, onde ficou acordada uma pausa nas denominadas Trade Wars, que após ter tido outros adversários, tem tido a China como opositor principal nos últimos meses. Ora, nessa mesma reunião, os Presidentes Xi e Trump acordaram adiar por 90 dias a entrada em vigor de tarifas mais elevadas, por contraponto ao aumento da importação por parte da China de diversos produtos norte-americanos por forma a reduzir o desequilíbrio da balança comercial entre os dois países. Este período seria também utilizado para fechar um acordo final. À chegada da Cimeira, o Presidente Trump referiu ser um acordo “incrível” e que ia ter um “impacto muito positivo na agricultura”. Como podemos observar na fig.1 Os mercados reagiram de forma muito positiva. No entanto, logo no dia seguinte, depois do "cessar-fogo comercial", Trump volta ao ataque, com os respetivos reflexos no índice de mercados desenvolvidos.

 

 

 

 

Este exemplo é apenas o mais recente num elevado número de interações que têm vindo a exercer alguma influência no comportamento dos índices acionistas, e que se tornou de tal forma um fenómeno, que até a Bloomberg já criou um site que segue todos os tweets do Presidente Trump relacionados com mercados ou economia e o seu impacto na cotação de fecho do Dow Jones Industrial Average, havendo por isso já uma perceção por parte dos market participants de que qualquer publicação do Sr. Trump é um evento por si só.

 

Qual será o próximo tweet?