A luta contra a inflação herdada do período da pandemia de Covid-19 levou, em 2024, à maior ronda coordenada de cortes das taxas de juro dos últimos 15 anos. No entanto, as primeiras reuniões deste ano dos principais bancos centrais já deixaram claro que essa sintonia começa a desfazer-se.
2025 arrancou num ambiente de incerteza macroeconómica e política, com o regresso de Donald Trump à Casa Branca e uma nova administração norte-americana determinada a influenciar as dinâmicas globais. A instrumentalização das tarifas comerciais como ferramenta de negociação torna o trabalho das autoridades monetárias ainda mais complexo e divergente.
Depois de cortar as taxas em 100 pontos base no final de 2024, a Fed não tem tido pressa em voltar a reduzir os juros e deverá manter essa postura nas próximas reuniões. As decisões futuras dependerão da evolução da inflação, que poderá ser pressionada pelo aumento esperado das tarifas comerciais e pela redução da força de trabalho (ilegal) em setores chave da economia.
Na Europa, a preocupação central já não é a inflação, mas sim os sinais de enfraquecimento da atividade económica. O BCE mantém-se firme na sua trajetória de cortes, tendo reduzido 25 pontos base em janeiro e praticamente garantido uma nova descida na reunião de março.
A economia britânica enfrenta desafios crescentes, com um mercado de trabalho instável e um aumento de impostos para as empresas a partir de abril. Estes fatores deverão condicionar as decisões do BoE, e os mercados já antecipam entre três a quatro cortes de 25 pontos base até ao final do ano.
Em sentido oposto, o BoJ aumentou as taxas em janeiro e deverá continuar esse caminho ao longo do ano, possivelmente já em maio. A inflação mantém-se elevada, impulsionada pelo crescimento dos salários e do consumo, justificando a política monetária mais restritiva do Japão.
Enquanto a Fed mantém uma postura cautelosa e de espera, o BCE parece decidido a continuar a cortar taxas. O BoE poderá acelerar os cortes à medida que a economia britânica enfrenta novas dificuldades, enquanto o BoJ mantém-se na trajetória ascendente das taxas de juro.
Com estratégias cada vez mais diferenciadas, a política monetária global entra em 2025 sem um rumo único – e com desafios que exigirão respostas cada vez mais específicas de cada bloco monetário.