Depois de um primeiro semestre muito penalizador para os mercados, com destaque para o principal índice de referência S&P500 a protagonizar o pior semestre dos últimos 50 anos (com uma queda de 20,6%!!) e o benchmark dos mercados acionistas europeus, o Stoxx 600, a ter a maior queda em 14 anos (perdeu quase 17%), o terceiro trimestre parece ter seguido a mesma tendência negativa com os mercados a registarem perdas significativas.
O trimestre iniciou com um mês de julho positivo para os mercados de dívida e de ações, apesar dos desenvolvimentos económicos não terem sido os melhores. Agravaram-se os sinais de desaceleração económica nas principais economias desenvolvidas e na China e os EUA já estavam tecnicamente em recessão após dois trimestres sucessivos de contração da economia. Os bancos centrais continuaram a subir as taxas de referência, com a inflação a permanecer em máximos de décadas e sem sinais de alívio a curto prazo, e com um contributo determinante do clima de incerteza em relação ao rumo da guerra na Ucrânia e, consequentemente, ao abastecimento de gás natural à Europa por parte da Rússia.
No entanto, depois de um mês onde os investidores pareciam ter recuperado um pouco o fôlego, Agosto foi mais um mês “cinzento” com destaque para o discurso de Jerome Powell no Jackson Hole Economic Policy Simposium, com o presidente da Fed a vincar a sua posição hawkish e a admitir que o futuro poderia trazer “alguma dor” para as famílias e empresas. Já na Europa, o BCE, depois da primeira subida de taxas desde 2007 (em julho), teceu comentários bastante agressivos acerca do controle da inflação e da subida de taxas que iria acontecer em Setembro.
Confirmando o sentimento negativo que se vive nos mercados a nível global, Setembro foi um mês onde se verificou o agravamento das performances de todas as classes de ativos. O mês caracterizou-se por um aumento significativo da volatilidade, que obrigou alguns bancos centrais a intervirem diretamente no mercado, com destaque para o EUR/USD que atingiu mínimos de mais de 20 anos. Na classe acionista um terço das perdas do ano foram registadas só em setembro! No plano macroeconómico, os dados mantiveram-se resilientes nos EUA, contudo, o outlook na Europa era mais sombrio… com a crise energética e a guerra na Ucrânia a afetarem negativamente a economia, colocando-a no caminho de menor crescimento e inflação mais alta.
No entanto, o mês ficou marcado pela intervenção das autoridades monetárias. Os principais bancos centrais não só subiram taxas de juro, como deram a entender que o continuarão a fazer, fazendo da luta contra a inflação o principal objetivo, em detrimento do crescimento económico. Começando pela Reserva Federal Norte-Americana que decidiu subir a taxa de referência em 75 pontos base para um intervalo entre 3% e 3.25%, o valor mais elevado desde 2008! No caso do Banco Central Europeu a retórica revelou-se cada vez mais hawish. Christine Lagarde confirmou que o BCE iria continuar a subir as taxas diretoras na Zona Euro nas próximas reuniões. Isto depois de na reunião de Setembro o BCE ter implementado uma subida histórica de 75 pontos base.
O 3º trimestre do ano revelou-se muito penalizador para as diferentes classes de ativos, onde apenas se “salvaram” as classes de obrigações euro high yield e mercados emergentes local, apesar das rentabilidades muito negativas YTD (-13,52% e -5,36%, respetivamente). Já o Dólar continuou a apreciar, contribuindo para a performance positiva do USD/EUR.
Perfis EUR | Benchmark | setembro | 3ºT | YTD |
Obrigações | Euro Treasury € | -3,75% | -5,05% | -16,81% |
Euro Corporate € | -2,83% | -2,64% | -14,59% | |
Euro HY € | -1,70% | 0,82% | -13,52% | |
EM Local € | -3,19% | 1,00% | -5,36% | |
Ações | MSCI World € hedged | -7,28% | -3,27% | -21,98% |
MSCI EM € | -8,08% | -5,24% | -15,60% | |
S&P 500 € hedged | -8,20% | -3,40% | -24,27% | |
EuroStoxx 600 € | -6,46% | -4,35% | -18,88% | |
Nikkei 225 € hedged | -4,54% | -0,17% | -6,75% | |
Commodities | Commodities CRB € | -4,19% | -1,20% | 35,60% |
Alternativos | Hedge Funds € | -1,14% | -0,07% | -5,74% |
USD/EUR | USD/EUR € | 2,56% | 6,95% | 16,02% |
O último trimestre do ano promete ser igualmente desafiante para os mercados financeiros. A crise energética, a guerra na Ucrânia, a possibilidade de novos problemas de saúde pública, a escalada de preços e o regresso da volatilidade nos mercados são alguns dos problemas que poderão surgir e agravar-se nos próximos tempos.
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