2022 tem sido pródigo em eventos de risco. A invasão da Ucrânia pela Rússia, o regresso dos confinamentos apertados à segunda maior economia mundial (China) e a aceleração da inflação (que motivou uma inversão radical nas políticas monetárias dos principais bancos centrais) têm varrido os mercados financeiros com violência.
Historicamente, o mercado exibe uma tendência para se manter focado num problema de cada vez e consequentemente, numa solução de cada vez. No presente não é fácil repetir este padrão porque são muitos e significativos os catalisadores desta vaga de aversão ao risco.
Neste contexto será pertinente definir o termo “risco”… para um investidor value com horizontes temporais alargados, risco é a probabilidade de suportar uma perda permanente de capital, já para o criador de um sistema de trading algorítmico, o termo risco será melhor capturado pelo drawdown máximo ou pelo tempo de recuperação do modelo.
No entanto, para a generalidade dos investidores a melhor definição de risco está associada à volatilidade dos preços… ainda que, mesmo neste domínio, possam existir vários graus de liberdade quanto à metodologia utilizada para se apurar o grau de variação dos preços. A volatilidade tanto pode ser medida como:
- a diferença entre os preços em duas datas diferentes (a métrica que utiliza menos informação – apenas os preços vigentes no início e no final do período),
- uma média entre as amplitudes das variações dos preços num determinado intervalo (o average true range – a métrica de volatilidade mais utilizada pelos intérpretes da análise técnica, devido ao maior efeito de suavização imposto ao comportamento errático dos preços) ou
- com a metodologia que Markowitz celebrizou, o desvio padrão dos retornos num determinado período (a métrica mais popular).
Aliás, existem mais metodologias, mas tanto essas como aquelas que acabam de ser elencadas partilham um denominador comum: utilizam preços passados nas suas formas de cálculo! Ou seja, todas elas oferecem um veredicto quanto à volatilidade já realizada, a volatilidade histórica.
Porém, como já estamos imersos num bear market na generalidade dos índices acionistas (definido como uma queda superior a 20% desde o máximo histórico) e como os níveis de ansiedade dos investidores estão já bem estimulados, será mais importante “olhar para a frente” do que “olhar para trás”!
Podemos fazê-lo ao analisarmos as expetativas do mercado quanto à volatilidade futura de índices como o S&P500 ou o Nasdaq100. Estas expetativas são medidas pelo VIX no caso do S&P500, e pelo VXN no caso do Nasdaq100. As fórmulas de cálculo escapam ao âmbito deste artigo, mas importará reter que a informação necessária para construir estes indicadores decorre da avaliação de contratos de opções sobre os índices acionistas já mencionados (o S&P500 no caso do VIX; e o Nasdaq100 no caso do VXN).
Será também relevante destacar que estes indicadores de volatilidade mantêm uma correlação inversa imperfeita com o comportamento dos mercados acionistas, ou seja, quando o S&P500 cai, o VIX sobe.
Neste contexto será importante observar:
Os “fundos” cavados na penúltima semana de Maio nos principais mercados acionistas não foram acompanhados por novos máximos nos indicadores de volatilidade (que, recorde-se, “olham para a frente” e não para “trás”).
Esta é uma divergência deveras construtiva que sugere a formação de “um fundo” nos mercados… talvez não “o fundo” deste bear market (cujo provável catalisador será a inversão no rumo da atual política monetária), mas definitivamente um fundo.