Em janeiro, a cidade de Londres perdeu o estatuto de maior centro de negociação / liquidação de ações na Europa, tendo sido ultrapassada por Amesterdão!

 

Os dados, citados pelo Financial Times (FT), indicam que durante o mês de janeiro foram “negociados” na cidade holandesa (através da Euronext, CBOE Europe e Turquoise), em média, 9,2 mil milhões de euros em ações por dia, tal como é visível no gráfico do FT:

 

 

 

 

A Turquoise e a CBOE Europe são plataformas de negociação de ações (multilateral trading facility ou MTF), criadas / geridas por alguns dos maiores bancos de investimento com o objetivo de fornecer serviços de negociação a um custo inferior ao das bolsas tradicionais (ambas foram criadas em 2008 na sequência da grave crise de confiança que abalou os mercados). São sistemas híbridos que permitem a negociação interna à plataforma mas também permitem a interligação com as bolsas tradicionais. Ambas as entidades têm sede formal em Londres, mas no âmbito do processo de contingência pós Brexit criaram nos últimos dois anos toda uma nova infraestrutura em Amesterdão oferecendo aos participantes a negociação de títulos do Espaço Económico Europeu (EEE – União Europeia + Noruega + Islândia + Liechtenstein) cuja negociação passou a estar limitada / impedida em Londres. Assim todo o volume de negócios que passava por estas plataformas envolvendo títulos do Espaço Económico Europeu, passou em 2021, a ser tratado unicamente pelas equipas de Amesterdão.

 

Em resposta, a esta perda de negócio, Londres suspendeu a proibição que existia até ao fim de 2020, de negociação de ações suíças, como Nestlé e Roche (cujo settlement continua a ser proibido em bolsas da UE, contudo, estas medidas foram insuficientes para travar o forte movimento de capitais “em direção” à Europa Continental. De referir que, também Paris, Frankfurt e Milão registaram igualmente um forte aumento no volume de negócios no mês passado.

 

A perda da relevância de Londres nos mercados financeiro é também evidente no mercado cambial e de taxas de juro. A bolsa de Amesterdão torna-se assim uma das primeiras vencedoras do Brexit. Desde o início do ano, a bolsa holandesa recuperou também a atividade no mercado dos swaps e da dívida soberana (que normalmente ocorriam em Londres, antes do Brexit), e, de acordo com o FT, a CBOE Europe estará também já a preparar abrir atividade no mercado de derivados ainda no primeiro semestre deste ano!

 

Esta era uma das consequências mais expectáveis resultantes do Brexit, mas não será certamente a última! O objetivo da Comissão Europeia é transferir “tudo” para a Europa continental reduzindo a dependência / exposição das economias da EU à praça de Londres (que agora é uma praça externa á união), o que irá implicar a médio/curto prazo um acelerar das transferências, não só de capital, como também de infraestruturas, negócios e milhares de postos de trabalho!