Volvido cerca de um ano do início da pandemia de Covid-19, importa analisar os seus impactos a múltiplos níveis por todo o mundo. Mas… Começamos este texto com uma certeza, a pandemia começou na China mas a economia chinesa não é, certamente, a que saiu mais prejudicada.
Indicadores económicos
A economia chinesa foi a única economia relevante, no panorama mundial, que apresentou um crescimento positivo do seu PIB no ano de 2020. Este crescimento ultrapassou até as expectativas avançadas por entidades como o Fundo Monetário Internacional (1,9%) apresentando um crescimento de 2,3% no cômputo do ano, segundo as estatísticas apresentadas pelo governo chinês. Apesar de ser o crescimento mais baixo desde 1976, ano em que a economia chinesa registou um decréscimo de 1,6%, este número é chocante quando comparado com o registado nas principais economias ocidentais. Segundo as previsões mais recentes, a economia americana deverá apresentar um decréscimo de 3,7% (dados OECD) em 2020, enquanto que a economia alemã recuou 5%.
Para o desempenho positivo da economia chinesa no último ano, certamente contribuíram os saldos da balança comercial registados ao longo dos últimos meses de 2020! Estes atingiram um máximo histórico em dezembro de 2020, aproximadamente 78 mil milhões de dólares americanos, com as suas exportações a subirem 18,1%, quando comparadas com o mesmo mês de 2019! Poucos dados representarão melhor a estratégia chinesa para o panorama pós-pandemia. Depois de um lockdown agressivo, imposto com recurso a apoio militar incisivo, a economia chinesa foi das primeiras a reabrir as suas fábricas, procurando ocupar o lugar dos países ainda em confinamento nos mercados internacionais. Consequência desta estratégia, a produção industrial chinesa, em dezembro, aumentou 7,9%, em termos homólogos.
E agora? Mapa geopolítico dos 3 principais blocos.
Já muito foi discutida a visão do último presidente americano sobre a relação com a China. É justo dizer que, apesar de todo o alarido feito à volta desta questão, Donald Trump manteve um pulso firme e conseguiu alguns acordos importantes para a economia americana. O mundo espera que a relação entre os 2 países serene com a eleição de Joe Biden, mas será este um cenário realista?
“Partido Comunista Chinês afirma que presidência de Biden é uma ‘nova janela de esperança’”
Na Golden acreditamos que este não deverá ser o cenário central. Embora seja expectável que a Administração Biden tenha uma atitude muito mais cordial e cordata com os seus homólogos chineses, o mais certo é que, no essencial, as tensões sino-americanas tenderão a persistir e a nova Administração continue a travar um conflito económico, tecnológico e financeiro com os chineses. Afinal, como diz o povo, não há lugar para dois galos na mesma capoeira ... Em resumo, acreditamos que haverá, agora, uma abordagem muito mais inteligente e subtil por parte dos Estados Unidos da América. Numa primeira fase, o principal foco de Biden será reunificar a América e o lançamento de planos de investimento em infraestruturas, R&D e na educação dos seus cidadãos. E por isso, o novo presidente poderá aparentar ser muito mais benevolente e cooperativo com os chineses no que concerne a temas como planos de combate à (ainda presente) pandemia e a questões ambientais, mas será igualmente competitivo e decidido no que toca à corrida pela soberania tecnológica mundial, movimentos militares agressivos, luta pelos direitos humanos universais e, também, no que toca a medidas protecionistas agressivas que visam por em causa o tão cobiçado comércio livre.
Em suma, espera-se uma abordagem muito mais refletida e calculista, contrária ao “all out attack” lançado pelo seu antecessor, mas sem nunca esquecer que representa a, ainda, maior super potência mundial e que a China é a principal ameaça à hegemonia americana no mundo para as próximas décadas.
E quanto ao nosso ‘velho continente’?
As notícias de um acordo comercial entre a Europa e a China certamente não caíram bem à nova administração Biden. O EU-China Comprehensive Agreement on Investment (CAI)¸ visa garantir que a Europa tem acesso (de forma competitiva e justa) a um mercado em clara expansão que já ocupa o 2º lugar nas trocas comerciais com a União Europeia, atrás apenas dos Estados Unidos da América.
Desde o fim de Segunda Guerra Mundial, a Europa Ocidental foi sempre próxima dos Estados Unidos da América mas durante a Administração Trump, os EUA afastaram-se e puseram por diversas vezes em causa essa aliança. Também neste campo, com Biden antecipa-se uma mudança de postura e uma reaproximação. A nova Administração de Washington vai ser mais hostil com alguns governos totalitários de que Trump se aproximou nos últimos anos e vai querer reaproximar-se dos aliados tradicionais como a União Europeia, cujo apoio é determinante no equilíbrio geopolítico internacional. E esta reaproximação EUA-UE implicará quase certamente uma maior coordenação de interesses e negociações relativamente à China. Assim sendo, a crescente influência da China em algumas regiões do globo poderá ser em breve confrontada por uma resposta articulada de EUA e União Europeia!
Será que Trump deixará saudades aos líderes de Pequim?