A planificação é uma das ferramentas historicamente utilizadas pelos regimes socialistas. Pretende-se atingir objetivos de médio prazo em temas sociais e económicos e consistem num conjunto de diretrizes, com algum grau de detalhe.
Na China, os “Planos Quinquenais” surgiram formalmente em 1953, ainda que desde 1949 o Partido Comunista Chinês tenha implementado algum tipo de planificação através do Comité Central e outros órgãos nacionais.
Nas últimas décadas, e em especial neste século, os Planos Quinquenais têm sido particularmente importantes, dado que têm sido o mapa para a transformação da economia de um estilo soviético para uma “economia socialista de mercado”. Por outro lado, analisando esses planos, verifica-se que tem havido uma forte implicação da China com os objetivos, que têm sido atingidos com particular sucesso. Objetivos definidos no início deste século, como o reforço da importância da China no mundo, o aumento do rendimento per capita ou o crescimento do peso dos serviços têm sido reconhecidamente atingidos.
O 14º Plano Quinquenal define o mapa de políticas para os próximos anos e é importante compreendê-lo. O Plano 2021-2025, apresentado no mês passado, retoma políticas do plano anterior. Por exemplo, o crescimento da economia “com qualidade” volta a ser um tema central, o que se consubstancia em transformar a China numa economia de rendimentos pessoais ao nível dos países mediamente desenvolvidos e numa taxa de crescimento estável. O novo plano dá bastante ênfase ao desenvolvimento tecnológico e é evidente o objetivo de a China se tornar autossuficiente em inovação. O objetivo de um desenvolvimento compatível com o ambiente é também mencionado, embora se possa especular que a escolha de uma via menos intensiva em carbono esteja relacionada com um menor consumo de recursos. Em todo o caso, a China pretende não só proteger o ambiente como reconstruir área que tenham sido degradadas, o que é uma novidade. Há também referências importantes à defesa nacional.
Os principais objetivos definidos pelo Plano Quinquenal 2021-2025 são os seguintes:
* Reformas nos direitos de propriedade para melhorar a alocação de fatores;
A China reconhece que uma alocação eficiente de fatores é essencial ao desenvolvimento. Por isso, tenta implementar mecanismos de mercado e de direitos de propriedade, em paralelo com uma economia mais dirigida.
* Promoção do “modelo de circulação dual”;
O modelo de “circulação dual” não está muto detalhado no Plano, mas o que se pretende é promover em paralelo a circulação económica externa e interna. A China considera que pode “aproveitar a vantagem de ter um mercado interno de grandes dimensões para estabelecer um padrão de desenvolvimento em que as circulações interna e externa se complementem”.
Por outro lado, a China tem vindo gradualmente a liberalizar os fluxos de capital e, até certo ponto, a flutuação da sua moeda no mercado cambial para promover a sua utilização no comércio internacional.
* Aumentar o PIB per capita para o nível dos países moderadamente desenvolvidos;
Este é um objetivo que já vem de Planos anteriores e que as estatísticas mostram que vem sendo atingido aos poucos.
Mas, por outro lado, ao contrário do Plano que agora termina, dá-se mais ênfase à “qualidade” do crescimento do que ao ritmo do crescimento, para construir uma “sociedade moderadamente próspera”.
* Prevenir e afastar todos os riscos que afetem o caminho da China para a modernização;
* Reforçar a “Segurança Nacional” e a “Defesa”;
Numa parte do Plano que pode ser considerada mais “agressiva”, o Partido pretende que exista uma maior sincronização entre o desenvolvimento económico e a defesa, havendo um objetivo do Presidente Xi de deter um poderio militar de topo até 2049. Defende-se a “união de um país próspero com um exército forte”.
* Manter a prosperidade e estabilidade de Hong Kong e Macau e promover a reunificação pacífica de Taiwan;
Não obstante se pretender que os “aprofundamento dos laços com Taiwan sejam pacíficos”, há uma menção clara à intenção de promover a “reunificação com a Pátria-mãe”. Pretende-se igualmente manter a “prosperidade de Hong-Kong e Macau”. Aqui a palavra-chave parece ser “manter”, dando a entender que as pretensões de mais democracia em Hong Kong não deverão ter eco em Pequim.
* Acelerar o desenvolvimento através de tecnologias verdes e pouco intensivas em carbono.
A China tem a maior pegada de carbono desde 2004, mas pretende que seja atingido o “pico” em breve e que as emissões comecem gradualmente a diminuir. Isto significa uma “transformação verde” na produção e estilo de vida das populações.
* Tornar-se autossuficiente em termos tecnológicos como base estratégica para o desenvolvimento nacional;
* Ser responsável pelas maiores descobertas em tecnologias chave em 2035;
O novo plano eleva a importância da autossuficiência em tecnologia a um pilar estratégico nacional. A China pretende ser autónoma em termos de fabricação de chips, que são os elementos-base para inovações como a Inteligência Artificial, O 5G e veículos autónomos. A China quer tornar-se no líder mundial de inovação.
Este ponto pode ser a resposta de Xi Jinping à pressão exercida pelos Estados Unidos da América sobre as empresas para boicotarem determinadas empresas chinesas, o que forçou certos fornecedores e países terceiros a aderirem a um bloqueio à tecnologia vinda da China.
Recordando:
- Em aproximadamente um ano, a administração de Donald Trump modificou três vezes as leis relativas às exportações da China, nomeadamente, da Huawei, o que afetou vários fornecedores da gigante chinesa à volta do mundo.
- Em paralelo, 70 empresas chinesas viram limitado o seu acesso à tecnologia norte-americana.
- Além disso, a indústria tecnológica chinesa continua dependente da importação de semicondutores, pois a produção própria tem uma classificação inferior à dos líderes globais.
Se por um lado, estes acontecimentos entre os Estados Unidos da América e a China acabam por deixar uma janela de oportunidade para a União Europeia, também envolvida numa pequena fatia da produção tecnológica em questão; por outro, tudo isto pode ser a grande motivação para a China, que se reflete na pretensão da autossuficiência tecnológica como base estratégica para o seu desenvolvimento.
A verdade é que ambos os lados do tabuleiro – China e EUA - têm, simultaneamente, vantagens e fragilidades neste momento, o que tem gerado volatilidade nas trocas comerciais internacionais.
Naturalmente, estaremos particularmente atentos e ativos ao desenrolar do cumprimento destes objetivos e quais os impactos refletidos nos mercados financeiros.
Este tipo de atuação, obriga contudo, a um acompanhamento permanente e por vezes à utilização de instrumentos financeiros complexos, algo que não é fácil ou mesmo exequível para a larga maioria dos investidores tornando o papel desempenhado pelas equipas profissionais de gestão, como a da Golden, ainda mais importante na defesa dos interesses dos seus clientes, procurando, através de uma análise diária e sistemática dos mercados, aproveitar as oportunidades que irão certamente surgir!